O pinhão foi o segundo fruto seco mais exportado em 2013, a seguir à castanha, subindo para primeiro lugar se for incluído o valor da pinha, segundo um estudo da União da Floresta Mediterrânica (UNAC). O relatório, que sintetiza os resultados do programa de valorização da fileira da pinha e do pinhão promovido pela UNAC, indica que Portugal exportou cerca de 364 toneladas de pinhão no ano passado, com Espanha e Itália no topo dos destinos (96% do total).

O valor médio de exportação de miolo de pinhão rondou os 14,4 milhões de euros nos últimos cinco anos (12,7 milhões de euros em 2013), enquanto o valor médio de exportação da pinha se aproximou dos 11 milhões de euros nos últimos três anos, um montante que se refere apenas à pinha exportada pelo porto de Setúbal (cerca de 10 mil toneladas anuais), desconhecendo-se o valor da pinha exportada por via terrestre. A falta de informação é, aliás, um dos problemas que a UNAC identifica no seu estudo. Ninguém sabe, por exemplo, a quantidade de pinhão que os portugueses consomem, nem qual é a produção total de pinha, disse o secretário-geral da organização, Nuno Calado.  Certo é que a área de pinhal tem aumentado: segundo o relatório, “em 40 anos a área de pinheiro manso instalado em Portugal cresceu mais de 100.000 hectares com particular relevância a Sul do território continental onde cerca de 16 concelhos possuem 72% da área total existente”. A capacidade produtiva da pinha é estimada num valor económico que se situa entre os 50 a 70 milhões de euros/ano.
Em 2013, os 175.742 hectares de pinheiro manso representavam cerca de 6% da floresta nacional, com destaque para o Alentejo que produz 67% das pinhas nacionais e 15% das pinhas mundiais. Nuno Calado explicou que o ciclo normal de produção das pinhas apresenta variações anuais, podendo ocorrer outros fatores que podem influenciar a produção de pinha num determinado ano, como a ocorrência de doenças ou a seca. “Não está ainda identificada a razão que levou à quebra de produção [nas últimas campanhas]”, sublinhou o responsável da UNAC, apontando um conjunto de fatores “com potencial impacto” como a hiperprodução de 2011, ocorrência da praga do inseto ‘sugador de pinhas’ (Leptoglossus occidentalis) que se alimenta de pinhas e flores de diversas espécies, entre as quais o pinheiro manso, ou a situação de seca meteorológica que caracterizou o ano de 2012.
A UNAC identificou entre os principais “constrangimentos” da fileira os riscos de adulteração do produto e desregulação do mercado, com problemas graves de furto e de evasão fiscal, deficiente organização da fileira e inexistência de estratégias de marketing com consequências gravosas para a valorização do pinhão junto do consumidor relativamente a produtos concorrentes, vindos da China e da Turquia. O estudo aborda também a necessidade de adotar boas práticas na colheita, transporte, armazenamento e comercialização de pinha “A colheita manual da pinha é uma operação que possui o risco inerente à atividade devido à necessidade de subir ao topo das copas, existindo vários acidentes todos os anos”, salienta a organização, considerando “essencial” fomentar a colheita mecanizada da pinha para rentabilizar a cultura, minimizar os efeitos da falta de mão-de-obra e o seu elevado preço, maximizar a colheita e diminuir o período de apanha, evitando roubos.
A UNAC alerta ainda para a utilização comercial abusiva e fraudulenta do nome “Alcácer do Sal” ou “Alentejo/Portugal”, em pinhão de qualidade marcadamente inferior e defende a criação de “um sistema de controlo e certificação que garanta que só possa beneficiar do uso da futura Denominação de Origem Protegida (DOP), o pinhão obtido em povoamentos ou pomares para o efeito autorizados”. O registo de uma DOP para o pinhão impediria “práticas conducentes a imitações, concorrência desleal e usos indevidos e abusivos”.  O objetivo do programa de valorização da fileira da pinha/pinhão é melhorar a competitividade desta fileira no Alentejo, “abrangendo todas as vertentes de exploração de um recurso florestal – económica, social e ambiental”. Os resultados do projeto foram apresentados em Alcácer do Sal, no mesmo dia do lançamento do livro “Receitas com Pinhão”, do provedor da Confraria Gastronómica do Alentejo.Pinhão é bom negócio
Uma empresa de Coruche, fundada há mais de 50 anos por Francisco Pereira Cecílio e esposa, já factura €3,5 milhões com o miolo de pinha. Da torragem de pinhão tradicional, recorrendo a fornos caseiros, a empresa transformou-se numa moderna unidade industrial e já exporta 75% da sua produção anual (150 toneladas) para a Europa e Estados Unidos da América. A empresa é gerida pelos irmãos Hélio Cecílio e Miguel Cecílio, ( que esteve presente no SISAB PORTUGAL) filhos dos fundadores e ambos com formação na área da engenharia, que têm procurado modernizar os processos produtivos.
Para trás ficaram os tempos em que Hélio Cecílio pegava na carroça da família e ia de casa em casa, na Azervadinha e arredores, entregar pinhões para serem abertos e descascados. “Nessa altura, o pinhão era uma parte importante da economia desta terra e, como não havia televisões, as famílias reuniam-se à noite, em casa, a partir pinhões, como se fosse um ritual”, conta Hélio Cecílio.

A empresa tem capacidade para trabalhar cerca de 18 toneladas de pinhão com casca por dia. Mas apesar da modernização, Hélio Cecílio considera que esta fileira poderia ser mais competitiva se houvesse apanha automática da pinha, através de um sistema vibratório, o qual permitiria aumentar a produção dos pinheiros no ano seguinte. Segundo estudos da Universidade de Évora, a vibração faz soltar as ramagens e pinhas antigas e afasta as pragas que aí se acumulam.
Cada trabalhador que anda na apanha da pinha pode ganhar cerca de 100 euros por dia e são precisas várias centenas, visto que esta é uma actividade sazonal que só decorre entre 15 de Dezembro e 21 de Março. No entanto, o drama têm sido os frequentes roubos. Hélio Cecílio, também presidente da Associação de Industriais de Miolo de Pinha, diz que o problema tem vindo a agravar-se e a fazer com que muitos proprietários façam, com receio de serem espoliados, a apanha das pinhas logo em Outubro quando o período ideal é a partir de meados de Dezembro.  Cada quilo de pinha chega aos 80 cêntimos e uma saca pode render cerca 32 euros. E há “larápios” que conseguem encher mais de dez por dia.

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